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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Empresas feitas para falhar

              Resolvi fazer uma parábola com o título do best-seller, de Jim Collins, Empresas Feitas para Durar, pois na prática muitas empresas quando crescem ficam cada vez mais ineficientes e ineficazes. Vamos neste artigo entender porque isto acontece.


A EMPRESA SE TRANSFORMA EM UM MAMUTE

            O crescimento de uma empresa normalmente é acompanhado pelo aumento dos níveis hierárquicos, da perda de poder nas pontas e de um regime mais burocratizado e normatizado. A alta direção da empresa termina por perder contato com a ponta, sente-se afogada no seu gigantismo e adota decisões mais baseadas em regras, calcada mais em versões do que em fatos, tudo sob o signo da impessoalidade. 

O FIM DA FRANQUEZA

            Uma estrutura altamente hierarquizada, burocrática e normatizada tende a desvalorizar a franqueza e a iniciativa, já que ela não se coaduna com a forma com que a empresa é administrada. Quando um funcionário tem uma opinião, idealiza uma sugestão ou enxerga uma prática equivocada, existe uma grande tendência a se omitir. Ele não quer bater de frente com a estrutura, por temer as consequências ou avalia que não adianta dar murro em ponta de faca.

            Com o tempo a empresa vai parecer "por fora uma bela viola" e por dentro fica "cheia de lixo varrido para debaixo dos tapetes". Afinal falhas e omissões são acumulativas e potencializam ainda mais o aparecimento de novos focos.

O PARADOXO DE ABILENE

            O paradoxo de Abilene é proveniente de um famoso livro de mesmo nome, onde um grupo de pessoas estava numa cidade no Texas sem fazer nada e alguém tem a "brilhante" idéia de irem para um restaurante em Abilene, uma cidade que ficava a mais de 100 km de distância. Ninguém queria ir para Abilene, nem mesmo quem fez a sugestão, mas como a sugestão partiu de alguém respeitado no grupo todos concordaram, para não serem "do contra", e quem fez a sugestão, depois da unânime concordância, também ficou receoso de voltar a trás. Lá vão eles 100 km ida e volta para uma cidade sem graça, num restaurante sem qualquer atrativo especial.

             Nas empresas grandes, os paradoxos de Abilene são derivados especialmente daquelas ideias que, no papel, rimam com expansão, crescimento, corte de custos e aumento de receitas. Esse tipo de ideia costuma encontrar eco no andar de baixo, porque os subordinados não querem de desagradar o chefe e nem parecer pessimistas. Vestido por uma bela embalagem e com números bonitos, pode impressionar o andar da cima. Essa é a origem de uma série de projetos fadados ao fracasso, com tempo, dinheiro e recursos jogados no lixo.

COMUNICAÇÃO TRUNCADA

            O crescimento dos setores, departamentos e diretorias aumenta o sentimento de grupos independentes dentro da empresa, gerando a defesa / ataque do "nosso grupo" em relação ao "grupo deles". No final, cada área da empresa se transforma num feudo, cujo chefe é o "senhor feudal” e os subordinados seus "vassalos" que se defendem com unhas e dentes de qualquer ataque externo e atacam quando sentem possibilidade de conquistar terreno e prestígio dentro da empresa.

            Este fanatismo dos grupos é o mesmo, guardando as devidas proporções, que faz com que famílias e torcedores de times de futebol e nacionalistas se matem na defesa dos seus grupos.

            Certamente este sentimento de rivalidade não é nada propício para uma comunicação fluida, e com isto os processos e projetos que dependem desta comunicação são prejudicados, normalmente demandando muito mais tempo e dinheiro.

CLIENTE PASSA A SER UMA ABSTRAÇÃO

            A alta direção da empresa que já encara seus funcionários da ponta como uma abstração, tem uma tendência grande, principalmente quando o cliente é uma pessoa física, de ignorá-lo solenemente. 

            Quando somos atendidos nos SACs destas grandes empresas temos a exata noção do que representamos para eles, talvez exatamente não mais que aqueles números tatuados nos prisioneiros dos campos de concentração.

            No discurso e na publicidade “o cliente é o rei”, mas na realidade o cliente, muitas vezes, não passa de mais um trouxa que comprou os  produtos ou serviços deles.

SOCIEDADES REALMENTE ANÔNIMAS

            Em um determinado ponto, quando a empresa já cresceu muito, os seus controladores passam a ter interesse em transformar parte do seu patrimônio em dinheiro, através do lançamento de ações em Bolsa de Valores (IPO).

            Se os seus controladores perdem a maioria das ações com direito a voto a empresa pode passar a ter um Presidente profissional, que muitas vezes nem tem ações da empresa.

            Neste momento a empresa passa a ser realmente anônima, e o interesse de seus controladores se distância do interesse dos seus gestores.

POLITICA DE TERRA ARRASADA

            Normalmente estes presidentes são remunerados através do seu resultado em curto prazo, gerando procedimentos positivos para o retorno imediato, mas altamente negativos para o longo prazo. É mais o menos como o arrendatário de um terreno para agricultura, ele vai tentar tirar o máximo da terra sem se preocupar que a terra ficará estéril após ele devolve-la para seu dono.
            Um dos resultados em curto prazo que é um dos preferidos pelos controladores é o aumento do valor da ação da empresa. O foco excessivo neste resultado pode acarretar em práticas de maquiagem da aparência de valor da empresa, em detrimento do aumento da eficiência e eficácia. É como um sujeito que quer vender um carro todo estropiado fazendo remendos que parecem perfeitos, mas que na primeira rodada vão pipocar.  

ENTÃO PORQUE AS EMPRESAS GRANDES PROSPERAM?

            Por tudo isso que falei, pode-se pensar que as empresas grandes,  a partir das questões descritas acima, tenderiam a quebrar. Isso, de fato, alguma vezes acontece, mas, na prática, é contrabalançado por outros fatores.

            Uma das grande vantagens do tamanho é a escala, já que esta permite uma maior especialização do trabalho e uso mais otimizado das instalações. Isso gera mais eficiência. Além disso, a empresa tende a conseguir melhores preços na aquisição de produtos e serviços e tem, muitas vezes, maior poder de pressão na ponta da venda. Esses fatores as tornam bastante competitivas, apesar dos males da grandeza.

            Além do mais, os bancos têm a tendência de oferecer empréstimos maiores e com taxas mais baixas para as empresas grandes, já que elas têm menor risco que as empresas menores.

COMO ELAS PODEM FAZER MAL A SOCIEDADE?

            Outro lado da moeda, danoso para a sociedade, mas proveitoso para as grandes empresas é o aumento do seu poder político através do lobbies, que atuam para aprovar leis em benefício próprio, obter financiamentos públicos com taxas menores e, dependendo do ramo, trabalhar diretamente para o governo. 

Isso contribui para massacrar seus concorrentes menores, chegando na prática a constituir oligopólios e monopólios e com isto passam a ter um grande controle sobre o lucro que vão extrair dos seus consumidores. 

            Nessa situação, a empresa gera valor para ela mas dá uma contribuição negativa para a sociedade, nos aspectos sociais e/ou ambientais e/ou econômicos. Desse modo, os governos precisam de organismos para controlar a formação de cartéis, que, no entanto, são muitas vezes ineficientes, pelo próprio poder político das grandes empresas.

COMO PODEMOS EVITAR ESTA ARMADILHA

            Para uma empresa poder ter outra história é indispensável que existem valores fortes, em especial a valorização da verdade (franqueza), da liberdade de expressão, da justiça e de uma consciência social. Estes valores têm que ser efetivamente praticados pela alta direção da empresa, pois sem este exemplo os valores se transformam em frases vazias.

            Além disso, é preciso estimular ideias divergentes, independente de onde elas brotem. não através de burocráticas caixas de sugestões, mas através de mecanismos concretos e atuantes.

            Finalmente é necessário exercer uma criticidade muito mais consistente contra o oba-oba ligado a projetos que conduzirão uma empresa para o "século XXII".

            Por outro lado, cada governo, "estimulado" pela mobilização e conscientização  da sociedade organizada, tem que permanentemente vigiar suas empresas, de modo a não permitir que estas corrompam suas estruturas. 

            Para evitar os males do gigantismo, pode-se trabalhar com estruturas semi-autônomas que promovam um maior grau de iniciativa de seus funcionários, gerando mais eficiência e eficácia.

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